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Polêmica dos Olhos de Raposa

Polêmica dos Olhos de Raposa

Foxy Eyes: A famosa técnica de delineado das blogueiras e modelos pode ser considerada racismo em relação aos povos amarelos?


O Twitter é palco de diversas discussões e polêmicas que, impulsionadas pelas hashtags podem ter alcance global. Há um mês atrás, a rede social foi bombardeada por tags que faziam menção a uma técnica de maquiagem chamada Foxy Eyes (em tradução livre, “olhos de raposa”), que acabou sendo relacionada ao preconceito racial e à questões de apropriação cultural aos asiáticos.

Essa técnica consiste em construir um delineado nos cantos dos olhos, gerando um efeito alongado. Para isso, são utilizados sombras, lápis e delineadores, além de pincéis para garantir o efeito esfumado natural e conferir um tom elegante. Diversas modelos e celebridades aderiram a técnica, que se tornou queridinha dos tutoriais do Youtube e passou a ser tendência mundial.

No entanto, a discussão no Twitter não enxergou a maquiagem dessa forma. As pessoas que questionaram a técnica, alegaram que essa seria uma tentativa de reproduzir o efeito de olhos amendoados, característicos do oriente. Além disso, criticaram duramente não só a maquiagem, mas também os procedimentos estéticos de lifting, que prometem ter o mesmo efeito da maquiagem para alongar os olhos.

Em tempos de cancelamento nas redes sociais, fomos investigar mais sobre o assunto e entender o lugar de fala. Assim, entrevistamos a youtuber Kelly Iida, do canal do Conhecendo, que participou ativamente da discussão no Twitter, nos contou tudo sobre a polêmica.

Para começar, a youtuber explicou sobre o lugar de fala nesses casos, que não fica restrito apenas à comunidade amarela, já que outras pessoas também podem ter olhos amendoados e acabam por sofrer generalização. “É importante dar espaço à comunidade amarela, mas também a comunidade árabe, já que o delineado tem essa origem. Também é muito importante ouvir todas as pessoas que possuem olhos amendoados, porque são confundidos com os amarelos apenas pelo tipo de olho, e isso leva ao estereótipo de que amarelos só tem olho puxado e nada mais diferencia os traços, e quanto mais estereotipar dessa forma, mais preconceitos vão existir”, conta Kelly.

Sobre a problematização da temática, Kelly explicou que ficou surpresa ao ver nos trending topics, afinal já conhecia e acompanhava as blogueiras utilizando essa técnica há muito tempo. “Nunca achei que essa técnica se quer parecesse com o olho amarelo. Os traços amarelos são bem diferentes, existem diversos países na Ásia e nenhum olho se parece com essa técnica do Foxy Eyes, que levanta o olhar”.

Outra questão levantada durante as discussões do Twitter foi a apropriação cultural. Esse termo diz respeito a uma cultura utilizar elementos de outra cultura, tirando ideias, símbolos e comportamentos de seu contexto original e, consequentemente sendo ressignificados. O conceito de apropriação cultural também abrange o fato de que após adquirir um novo significado, esses símbolos se tornam produtos, por isso, envolve participação direta da indústria.

Sobre a apropriação cultural, Kelly reforçou a importância de pesquisar os conceitos antes de reproduzi-los para não tirá-los do contexto erroneamente. Além disso, explicou que as técnicas de maquiagem das culturas são muito diferentes e precisam ser respeitadas e, mais uma vez, lembrou que é preciso compreender que diversos grupos possuem olhos amendoados e suas técnicas também são diferentes. “Existem outras comunidades que também possuem olhos amendoados, os indígenas por exemplo, e as pinturas que fazem são muito além de maquiagem, possuem um significado profundo em suas vidas. É errado pessoas de outras comunidades tirarem esse significado e tentar aderir apenas para embelezamento”, explica.

A youtuber também contou que muitas pessoas acabam fazendo pesquisas superficiais, verificando apenas uma busca rápida na internet, o que reforça ainda mais os estereótipos da indústria que, vende lugares e características que não fazem sentido com a vida nativa de um determinado povo, por isso, constroem uma visão fechada. “Temos que entender a apropriação cultural com as pessoas que possuem aquela cultura e contato direto com a situação”.

Expandindo a discussão da indústria e do contexto de pesquisas aprofundadas, Kelly trouxe um outro lado da história e explicou que o assunto precisa ir além da maquiagem e ser desconstruído em outros pontos, como por exemplo o universo audiovisual, porque retrata muitas culturas. “A maquiagem artística tem que estar realmente dentro do objetivo que quer passar. Antigamente, era muito comum os personagens amarelos serem representados por dois dentões e um risco no lugar do olho, isso está errado, é preciso entender como funciona a realidade”.

Vale ressaltar que seja qual for sua maquiagem ideal, não existe um padrão universal e ela deve ser utilizada como ponto de apoio para sua autoestima, por isso, é interessante testar e experimentar diversos aspectos, sempre respeitando as respectivas culturas e, em caso de qualquer dúvida, as pesquisas e o diálogo são sempre ótimos espaços para novos aprendizados.

Foto Destaque: Reprodução/Unsplash/Creedi Zhong
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